segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

"Preconceito"



Hoje, no Dia Mundial de Luta Contra a Aids, nada melhor do que falar sobre preconceito.

Preconceito é algo inerente ao ser humano. Até a mais humilde e bondosa das almas não pode se eximir desta culpa: possuir preconceito. Entretanto, o exercício de torná-lo cada vez menor deve ser obrigação diária.

Preconceito é diferente de discriminação. Discriminar é exercer o preconceito da maneira mais absoluta: é separar, afastar o outro de si. Assim, segundo nossa legislação, somente é crime o preconceiro na ação, ou seja, manifestado através da discriminação. Ainda bem, pois senão seríamos todos presos.

Assumir os proconceitos que se tem já é bastante importante para controlá-los. Há quem discrimine sem saber que o faz.

Há tempos, nosso Brasil - terra abençoada por Deus e bonita por natureza - exerce de forma massacrante a discriminação. País que já foi escravagista monárquico, carrega até hoje o ranso da segregação. Mas, será que preconceito é algo simplesmente cultural?

Possivelmente não. O preconceito surge de um conflito psíquico. É quando tememos tanto que nossa parcela frágil e diferente apareça que tratamos logo de apontar o que consideramos frágil e diferente no outro. E se encontramos um grupo disposto a unir forças conosco contra um grupo menor, está feito. A discriminação cresce e a falsa aura de proteção contra nossas próprias mazelas está criada.

É interessante como a força do grupo trabalha. O que vemos hoje é que, cada vez mais, os grupos minoritários se unem para exercer o mesmo preconceito e discriminação com o grupo que um dia foi majoritário. Vivemos em guetos urbanizados, em culturas engessadas que separam o que é negro do que é branco, o que é são do que é doente, o que é padronizado como belo do que é feio, o que é velho do que é novo, o que é hetero do que é homo.

Cotas em universidades para negros, vagas para deficientes em concursos, locais para estacionar para idosos: não somos mais humanos. Somos categorias humanas.

Não são todos que têm a oportunidade de conhecer um manicômio. Ali, estão escondidas as mazelas que o mundo finge que não vê: seres humanos que vivem em condições insalubres. Assim como foram escondidas as favelas cariocas nos Jogos Panamericanos. Assim como escondem os milhares de abortos praticados anualmente no país. Assim como escondem as crianças de rua que praticam delitos em utópicas instituições de recuperação. Estão todos tão escondidos! Vítimas de discriminação em massa. E com o comportamento de discriminar e não perceber que se discrimina, a sociedade vai se moldando como pode. E se molda mal.

O que há de mais importante em toda esta reflexão é a idéia de que somos imperfeitos. E quando acontece esta aceitação, o defeito ou característica do outro é o que menos importa. Ele não tem que ser perfeito ou imperfeito para mim. O outro é único, como eu sou único. O preconceito começa a ser atenuado. A discriminação passa a não existir. Acontece a agregação ao invés da desagregação. É a união de forças e não a separação por diferenças.

O que se deve ressaltar são as possibilidades. Se criarmos nossas crianças verdadeiramente dentro desta premissa, o preconceito, então, um dia se extinguirá. Teremos pessoas felizes, multiplicadas por coeficientes ímpares e não mais subtraídas por suas características especiais.
Mas, enquanto isto não acontecer, vão continuar criando datas especiais para nos lembrar que pessoas morrem de Aids, que negros merecem ser homenageados por sua história de luta racial, que mulheres devem ser tratadas com carinho... Que pena. Isso deveria ser natural.


Luz e Paz! E muita consciência!

2 comentários:

  1. Que texto interessante e inteligente sobre preconceito. Acho que foi um dos melhores que você escreveu, trazendo uma visão nova sobre o assunto em seus aspectos pisocológico e social.
    Parabéns, Pê.
    Cá.

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  2. Concordo.
    Se olharmos pelo lado psicológico veremos uma singularidade que não é respeitada...
    Do ponto de vista racional, pessoas que deixam de usar tal ferramenta, ou, racionalizam como a grande massa, sem autenticidade ou critica próprias.
    O que falta hoje são seres humanos para a interação com seus semelhantes.

    Daniel F.A.

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