segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

"Prejuízo Escolar"


















Nesta época do ano começam a pipocar os problemas dos pais com o desempenho escolar dos filhos. Boletins com notas vermelhas aparecem e a notícia de que a recuperação é uma necessidade ou que o ano está perdido é dada pelos professores.


Até meados dos anos 90, o prejuízo escolar sempre foi mais associado à questão comportamental. Os "maus alunos" - como eram chamados - eram aqueles que tumultuavam as aulas, que não estudavam em casa, que tinham uma conduta pouco produtiva no ambiente escolar. Atualmente, graças ao avanço das neurociências e da psicologia e pedagogia, a visão sobre o desempenho escolar foi ampliada e ganhou novas diretrizes.


Todos já ouviram certamente os termos hiperatividade, défict de atenção, impulsividade. Estes foram os diagnósticos mais dados nos últimos tempos. De fato, a compreensão de que os transtornos psicopatológicos influenciam de forma evidente o desempenho escolar agregaram compreensão e resultados positivos na tentativa de recuperar e dar suporte terapêutico aos alunos. Entretanto, o mau uso de tais conceitos também gerou uma massificação. Muitas vezes, antes mesmo de observar o aluno ou de avaliá-lo de forma mais pormenorizada, muitos profissionais do meio escolar o classificam através de patologias que, na verdade, não definem seu problema.


Um exemplo - que seria cômico se não fosse trágico, por se tratar de uma vida - é o do garoto que em seu primeiro dia de aula - depois de mudar de muitas escolas por não adaptar-se - apresentou-se da seguinte forma aos colegas e à professora: "Olá, eu sou o hiperativo", sem ao menos dizer seu nome. Exemplos como este acontecem de forma crescente no Brasil. Ao rotular-se desta forma uma criança ou um adolescente, se está contribuindo com a exclusão e não com uma solução para o problema.


O diagnóstico parte, muitas vezes, do próprio professor em sala de aula. Devo ressaltar que isto é um equívoco. Os únicos profissionais aptos a diagnosticar transtornos desta ordem são neurologistas e psicólogos. Não há exceção. Tais profissionais irão utilizar diversos procedimentos para que o dignóstico seja fidedigno e que procedimentos possam ser administrados para a remissão ou controle dos sintomas.


Muitas vezes, as questões relacionadas ao mau desempenho escolar estão sim relacionadas a algum fator neuropsicológico. Entretanto, outras vezes, a questão comportamental também pode apresentar-se isoladamente como fator desencadeador.


Quando um aluno passa a ter prejuízo escolar não são as notas somente que passam a decair. Sua auto-estima é abalada, seu desempenho em outras áreas pode ser prejudicado, seus relacionamentos dentro e fora do colégio passam a sentir os reflexos do problema. Desta forma, pais atentos aos seus filhos não precisam de um boletim para identificar o problema. Basta observar como a criança ou o adolescente vem se comportando em sua vida, de forma geral.


Mais do que broncas, castigos ou privações o indivíduo com problemas escolares precisa de suporte. Não só médico e terapêutico, mas principalmente familiar. Ele precisa identificar apoio para que supere a dificuldade. Isso é muito importante. E quando falo de apoio, não quero dizer que a responsabilidade da criança/adolescente seja transferida para os pais. Pelo contrário. Mas sim que aconteça um fortalecimento emocional.


A partir do momento em que os adultos passam a compreender que aquele problema é um problema do filho e que não devem lançar mão de castigos ou de estratégias como mudança para uma "escola fraca" a fim de evitar a reprovação, passam a dar apoio emocional, no sentido de que estão ali para amparar, mas sem interferir na parcela de responsabilidade daquele indivíduo. E quando o problema vai além do comportamento, compreender que as dificuldades serão superadas gradativamente com medicação e psicoterapia - e que ambas intervenções são essenciais- ajudará na aceitação e continuidade de esforços pela criança/adolescente. Não há nenhum problema que não possa ser solucinado. Mas para isso é importante que todos os envolvidos trabalhem pelo mesmo objetivo.


Enfrentar e superar uma dificuldade escolar, muitas vezes, faz com que o indivíduo amadureça e passe a desenvolver autonomia, características essenciais para que se torne um adulto mais feliz e emocionalmente forte. Por isso, se o seu filho está passando por problemas escolares, procure ajuda e não faça tempestade em copo d'água. Ajude-o a enfrentar esta batalha!




Luz e Paz!

3 comentários:

  1. Amorosa Pê
    Não seriam pais hiperativos que não tem tempo de prestar atenção nos filhos? e com isso estão criando coisinhas hiperdestrutivas? sei não...que saudades dos tempos em que as avós passavam a tarde em nossas casas tomando chá conosco e c/ mamãe...e tb. das broncas de nos sabermos vigiados 24 hrs...isso gerava em algumas vezes uma certa dose de raiva qdo. levávamos castigos, broncas, e muioootos nãos, e sentíamos vontade de ser adulto logo, mas tb na maioria das vezes isso nos acrescentava a certeza da proteção e amor ininterruptos...
    abraços

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  2. Muito interessante. A cada dia aprendo com seus textos e ensinamentos.
    Cá.

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  3. Gostei muito do texto... reflexivo! Eu, atuando na área, percebo que muito mudou... bons valores e costumes perderam-se, infelizmente! Acredito que o "bença tio" ou mesmo o ficar em pé com a entrada da professora, era uma maneira de demonstrar o respeito que tínhamos pelos mais velhos e pelos mestres... Eram limites e posições estabelecidas implicitamente através dessas ações que podemos chamar de culturais... HOJE É CONSIDERADO BREGA!!! Mas agredir verbal e fisicamente a família e os professores é o que?
    Vamos refletir mais...
    Daniel F.A.

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