domingo, 23 de fevereiro de 2014

5 sinais que mostram que você está exagerando no mundo virtual!


 Na onda das listas sobre características auto-identificáveis que evidenciam comportamentos- padrão resolvi falar sobre os cinco sinais que mostram que você está exagerando no mundo virtual!
Num mundo tecnológico e, mais do que isso, que segue a máxima de que produtividade está acima de tudo e de que tempo é dinheiro, habituamo-nos a navegar com mais frequência num mundo virtual que acaba com distâncias, burocracias, mas também com a vida social real. E é aí que mora o perigo... Se identificar com alguns destes itens seguintes já aciona um alarme vermelho importante...
 
 


Utilizar o e-mail como principal canal de comunicação.

Não há nada de mais em documentar contratos e acordos de trabalho através desta ferramenta tão eficiente. No entanto, com a desculpa de ser “menos invasivo” o e-mail acabou representando um canal de comunicação avançado também nas relações não profissionais. O arroba (@) há tempos deixou de ser comercial e passou a ser também social. Existem casais que discutem a relação através de longos e-mails. É como um retrocesso na forma de se comunicar: corresponder-se por e-mails é retornar ao tempo das longas cartas de amor, há  séculos passados, com a diferença de que o conteúdo tem mais a ver com cobranças do que com declarações românticas. Um problema entre duas pessoas só pode ser bem resolvido através do diálogo real: direto, olhos nos olhos, ouvindo palavras e tons proferidos.

Não sobreviver sem um smartphone

Em épocas de SMS, redes sociais, Instagram e Whatsapp quem não tem um celular é analfabeto. Sim, um bug em uma dessas redes de comunicação pode colocar uma multidão em abstinência de forma devastadora! Hoje, privar um ser humano de um celular significa mais do que acabar com a água do planeta, energia elétrica ou arrancar um braço do indivíduo! É claro que as vantagens de um smartphone são incontáveis e que, de fato, nos causam grandes privilégios e comodidades, mas lembrar-se que há menos de vinte anos vivíamos muito bem sem isso pode nos ajudar a ficar menos dependentes desses aparelhos adoráveis. Como uma calculadora que limita nosso raciocínio lógico-matemático natural o uso desses celulares também influencia no desenvolvimento e manutenção de diversas inteligências. Pensar mais que seu celular poderá te ajudar em muitas situações importantes! Pense nisso!

Viver a vida real só para ter uma vida virtual

Até bem pouco tempo atrás as pessoas viviam suas vidas reais. Simples assim. Relacionavam-se, se divertiam, compravam coisas, vendiam outras, viajavam, começavam e acabavam casamentos, se alimentavam, tudo isso anonimamente. Os outros só sabiam da vida das pessoas se estas contassem, ali, téte-a-téte, numa conversa, ou se uma vizinha fofoqueira daquelas que ficam na janela passasse a informação pra frente. Vivemos hoje uma queda no que se convencionou chamar de vida privada: não há mais prazer em se ter uma vida anônima, secreta, especial. As pessoas planejam sua vida real de tal forma que sua vida virtual seja interessante, luminosa, bem sucedida e invejável. Uma vida editada na realidade. Tudo é milimetricamente planejado para que fotos sejam tiradas, comentários sejam feitos, pessoas sejam indiretamente atingidas. E o melhor: de uma forma tão comum, tão normal, tão massificada que ninguém mais lembra que funciona assim! É como um universo paralelo, um alter-ego, um lugar onde cada um escolhe o que quer que aconteça. Torna-se um problema quando na vida real acontecem coisas inesperadas, não editáveis e que geram grandes traumas para uma vida virtual perfeita. Talvez por isso a ansiedade continue sendo a doença do século, não é mesmo?

Consumir sem sair de casa

É incrível como a tecnologia nos levou a um episódio dos “Jetsons” (se você tem menos de 30 anos, aproveite o tema e vá até o Wikipedia!) num estalar de dedos! “Ganhar tempo” foi o principal mote para o boom das compras pela internet! No entanto, aquilo que nos serviria se tornou nosso capitão do mato! Hoje, o consumo excessivo é um dos principais problemas nos orçamentos domésticos e familiares. Compramos muito, sem discernimento, sem controle e o pior, ensinamos nossas crianças a serem da mesma forma.

Comprar pela internet nos dá a sensação de satisfação instantânea e sem culpa. É uma experiência quase sempre solitária. Nos shoppings teremos os olhares das vendedoras desconfiando do nosso limite de cartão de crédito, das outras pessoas nos corredores contando o número de sacolas que estamos carregando e ainda, ao chegar em casa, teremos os malabarismos para esconder das pessoas tudo o que foi comprado na “super liquidação”, não é mesmo?

O problema acontece mesmo quando a fatura do cartão chega. A culpa que não aconteceu lá atrás vem como um tsunami, mas vai embora logo, pois no mês seguinte começa tudo de novo. Comprar já é um comportamento que pode se tornar compulsivo muito rapidamente, pois somos estimulados a isso. Comprar pela internet torna a questão ainda mais frágil. Mesmo sem tendências ao excesso, qualquer um pode cair nessa perigosa teia! Mas, vale lembrar que disciplina e foco podem tornar este hábito um fator de grande economia: quando compramos virtualmente, temos a chance de colocar e tirar itens de nosso “carrinho”, o que facilita no controle do orçamento!

Facilitar as coisas através das pesquisas virtuais

Quem nunca usou as ferramentas de busca que atire a primeira Barsa! Sim, todos nós estamos mais do que habituados a buscar qualquer coisa no Google. A ferramenta se tornou tão famosa que os americanos criaram um verbo a partir do nome da empresa para designar o ato de buscar informações virtualmente!

De todos os usos possíveis e positivos que a tecnologia e virtualidade nos proporcionam, o de ter informações instantâneas e úteis é, sem sombra de dúvida, um dos melhores!

A questão está no uso que se faz, aliás, como todos os itens aqui relacionados. Crianças e adolescentes, em pleno processo de desenvolvimento e aprendizagem funcional perdem o interesse pela pesquisa aprofundada e consequentemente pelo gosto da leitura simplesmente por terem a sua disposição um “professor sabe-tudo” 24 horas por dia! Nós, adultos, também nos acostumamos com alguém pensando por nós! O mais interessante – e preocupante – é que esses mecanismos de busca acabam engessando a forma de pensar! Para informações objetivas e matemáticas, precisão e afirmativas são sempre bem-vindas. No entanto, quando falamos de subjetividade e de questões filosóficas e humanas, ter uma resposta pronta pode nos tornar indivíduos limitados. Sim, o ministério do livre-pensar adverte: utilizar ferramentas de busca pode emburrecer o indivíduo! Busque, mas também questione!

 Como tudo na vida, moderação! O mundo virtual acaba representando a possibilidade de nossos conteúdos inconscientes ganharem forma e vida e é por isso que se torna tão atraente e ilusoriamente libertador! Melhor que sonhar é viver e, para isso, a consciência é nossa melhor aliada!
Luz e paz, meus queridos!

sábado, 5 de maio de 2012

"Persona: aquilo que mostramos aos outros"


Todos nós, de alguma forma, aprendemos a nos editar. Com as redes virtuais, isso fica cada vez mais evidente: a foto que colocamos em nosso perfil, a descrição de nossos gostos, o tipo de atividade que divulgamos praticar, etc. são todas escolhidas com cuidado e zelo, numa tentativa de representação máxima pessoal.
Quando editamos a nós mesmos estamos atuando ao máximo com nossa Persona. Este é um termo trazido à psicologia moderna pelo admirável Dr. Carl Gustav Jung, que o designou àquela nossa parcela pessoal  que fazemos questão de salientar aos outros. Como o próprio nome sugere, a Persona nada mais é que um personagem criado e vivido por nós de forma a resumir nossa personalidade.
No entanto, como todo resumo, a persona agrega somente algumas características daquilo que somos ou acreditamos ser. Normalmente, ficam de fora nossas características mais profundas, nossos defeitos menos identificados e mais escondidos, nossos medos e principalmente nossa essência-primeira.
A Persona é como um escudo. Uma defesa de nosso ego contra toda e qualquer ameaça. Ela não é somente exibição daquilo que eu acredito ter de melhor, mas é também a evidenciação de como eu gostaria de ser. Por tal caráter revelador, para olhos atentos,  é possível conhecer muito sobre uma pessoa observando primeiro como ela se apresenta a nós. Paradoxalmente, olhar a Persona de alguém é ao mesmo tempo olhar sua casca e sua verniz, mas também seu íntimo. O não-revelado nos permite mergulhar no psiquismo daqueles que se apresentam superficialmente.
Todos nós atuamos quase que unicamente pela Persona em algum momento de nossas vidas, principalmente se nosso trabalho em auto-conhecimento é limitado. Quanto mais nos conhecemos, menos temos a necessidade desta defesa do ego e mais próximos de nossa essência chegamos.
Mas, pode surgir a pergunta: "-Devemos então buscar a nossa revelação total  aos outros, abrindo mão de algumas características pessoais construídas, nos tornando seres absolutamente transparentes?". Creio que a resposta seja negativa e explicarei o motivo a seguir.
Construções fazem parte de nosso desenvolvimento humano e assim sendo, fazem parte de nosso aprendizado sobre nós mesmos e sobre os outros. Muitas vezes construímos uma carreira, uma imagem pessoal e um tipo de relação ao longo de nossas vidas e nos sentimos orgulhosos disso. Em cada um desses setores estamos desempenhando papéis diferenciados: quando sou mãe, por exemplo, assumo o papel materno, papel este que não é aconselhável ser assumido numa relação amorosa ou num cargo de chefia em meu emprego. Assim, a forma construída de maneira pessoal para que eu possa desempenhar cada um desses papéis me traz, muitas vezes, segurança e me capacita para que eu tenha sucesso nessas atuações. Desta forma, abandonar as personas criadas me acarretaria uma confusão profunda e uma anulação de um repertório que até hoje me serviu muito bem, por me manter numa zona de conforto. Eliminar isso radicalmente poderia resultar em sérios conflitos psíquicos. No entanto, se num trabalho de auto-conhecimento eu ao menos conseguir identificar que tais atuações diversificadas são fragmentos de algo integral que sou eu mesma, já estarei compreendendo o meu funcionamento e eliminando, aos poucos, a necessidade de criar, cada vez mais, novos personagens que me "defendam" do mundo. Quando integramos nossa personalidade nos aproximando de nossa essência, conseguimos permitir que nos apresentemos naturalmente aos outros. A isso chamamos autenticidade.
Ser autêntico é garantir, para toda a vida, uma sensação de bem estar inabalável e uma força de enfrentamento de crises inesgotável! Experimente!

Luz e Paz!

Pedrita Evangelista.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

“O sentido do vazio”


Todas as vezes que nos sentimos “vazios” logo tratamos de nos “preencher”. É como se a falta representasse derrota, incapacidade, limitação.

É natural querer tampar o sol com a peneira e logo substituir o espaço que alguma coisa deixou. No entanto, a não vivência do luto – que é a vivência da perda, de qualquer espécie - pode gerar comportamentos repetitivos nocivos para nossas vidas.

Ao invés de logo preencher o espaço que ficou, seria interessante se pudéssemos entender o vácuo, o vão, o buraco, a ausência de algo. Olhar para aquilo que ficou vazio é um grande exercício de autoconhecimento e libertação. Flertar com o nada que sobrou nos possibilita compreender que a transitoriedade das coisas é palpável, natural, dinâmica e por isso transformadora.

É quase instintivo fugir da dor. E somos todos seres humanos. Mas, é também um aprendizado a tentativa de burlar o sofrimento. Observemos a natureza: um animal, seja um pássaro ou um leão, respeita o momento da dor e do desprendimento. Ele não finge sentir-se saudável, ele não busca outra atividade que o tire do momento crítico. Ele simplesmente vive aquilo que está acontecendo, sem fugas, sem artifícios. O ser “bicho” é o mais zen de todos os seres vivos: ele está cem por cento presente no aqui e agora.

Humanos dotados de inteligência passaram a utilizá-la em prol de si mesmos. No entanto, o que vemos no âmbito psíquico é exatamente o oposto: neuroses e psicopatologias arraigadas ao inconsciente nos mostram que o “bicho homem” é o mais recém-nascido no quesito “evolução psíquica e emocional”, levando em consideração sua potencialidade em latência.

A utilização da razão para burlar o sofrimento é uma das mais comuns causas de perda de qualidade de vida. Aquele que não derrama fisicamente uma lágrima tende a acumular internamente rios de mágoas que dão vazão das mais variadas formas. Formas estas negativas, camufladas, não digeridas e permanentes.

Não se trata de uma apologia ao sofrimento. Ao contrário. É a busca por paisagens mais amenas e savanas mais tranquilas.

É preciso escalar a montanha para chegar-se ao topo. Eu posso inúmeras vezes alcançar o cume de uma montanha com um helicóptero, um bondinho ou teleférico. No entanto, só compreenderei a plenitude das alturas quando me propuser a escalar pedra por pedra. Eu posso, depois disso, voltar ao helicóptero. Mas já terei compreendido do que é feita aquela montanha e por isso poderei respeitá-la em cada pedrisco, em cada grão de terra, em cada folha de suas árvores. Não terei mais medo de cair, mas conservarei o respeito por aquilo que pode derrubar qualquer um.

Olhar para o vazio e vivenciá-lo é compreender de fato o que falta. E a partir desta descoberta é possível não substituir, mas sim encontrar um novo rumo que traga novas perspectivas, ideais e planos que por si só tomarão conta de nossas vidas, fazendo com que a perda seja superada verdadeiramente.



Luz e Paz!

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

"Aprovação"


Todos nós, desde muito pequenos, aprendemos que a aprovação é algo que recompensa e estimula. Crescemos com o incentivo dos pais, quando crianças, a cada nota dez, a cada dever cumprido com perfeição, a cada ação “correta” realizada. Olhar para trás, para a maior parte das pessoas, implica em fazer um balanço geral de “acertos” e “erros” que são arbitrados por nossa parcela introjetada do que é o caminho do bem ou do mal.

O que está de acordo e o que não está tem intrínseca relação com tudo aquilo que o outro, o “fora”, o externo, nos dá como retorno. E esta aprovação ou desaprovação – que pode vir desde uma ampla rede social até uma pessoa específica, que seja uma referência pessoal – vai moldando e direcionando cada passo que damos em NOSSAS vidas. Vivemos, então, de acordo com referências exteriores a nós e as utilizamos como uma bússola de ouro.

E se, de repente, conquistássemos a alforria deste tipo de pensamento? E se, ao invés de pensarmos com o tipo de padrão externo pudéssemos olhar para nossa trajetória de vida sem a necessidade de agradar ou ganhar recompensas?

No início da tentativa de viver com referências menos externas e mais internas, um abismo se abre diante de nós: é a percepção de que o nascimento de uma nova vida está acontecendo. Oras, todo recém-nascido precisa aprender a viver neste mundo, gradativamente! E não é diferente quando, depois de adultos, renascemos para uma nova forma de pensar e agir! Passo a passo, o abismo vai sendo preenchido por tábuas sólidas e assentadas uma a uma, que irão formar uma grande ponte sobre tudo aquilo que, agora, nos parece vácuo e escuridão.

Deixar de se importar tanto com a aprovação é um exercício que dói. Ninguém está acostumado a ir na contramão do outro, a não ser que seja por rebeldia (e querer chamar a atenção de alguém é querer aprovação!). A aprovação lida com nosso ego mais arcaico, aquele que gosta de saber que é o centro das atenções e que consegue despertar no outro admiração. Lida também com a falsa sensação de pertencimento, que nos diz que ser aprovado é ser querido, que é fazer parte de um grupo. Muitas vezes, no entanto, a aprovação externa tem mais relação com controle do que com pertencimento. Quando o outro aprova e é juiz, sente um poder quase divino de dominar a vida de um ser que é igual a si, mas que se coloca num patamar inferior.

Com a busca de se desvencilhar da necessidade de aprovação, aos poucos, passa a existir uma sensação de libertação maravilhosa que acaba com a dor e que nos revela um tesouro: a descoberta de nosso “eu” que encerra em si tudo aquilo que realmente importa para nossa evolução pessoal.

Parar de trabalhar por recompensas alheias nos dá a sensação de tomar o rumo certo. A necessidade de aprovação pelo outro é substituída pela aprovação própria e este sentimento é um dos principais tijolos na construção de nossa autonomia e consequente fortalecimento de nossa autoestima!


É claro que “nenhum homem é uma ilha”. Não é sobre isso que estamos falando. O crescimento pessoal deve levar em consideração tudo aquilo que acontece no mundo e com os outros. Nós somos formados e também formamos os outros através das relações. No entanto, o exercício proposto aqui pede uma inversão na ordem das coisas: ao invés da ação que busca a aprovação (externo – interno) a auto aprovação proveniente do autoconhecimento que gera a ação (interno- externo).

A bússola de ouro, antes representada pelo outro e por tudo aquilo que é externo, passa a ser norteada por uma chama interna com magnetismo infinitamente superior - e por isso se torna muito mais aferida-: você!

Buscar a aprovação constante do outro impede que você escreva e protagonize sua história. Olhar para dentro e perceber o que é bom para si faz com que as páginas em branco sejam escritas a próprio punho e que a história possa ser vivenciada integralmente por você!



Luz e Paz!











quinta-feira, 7 de outubro de 2010

"A grama verde do vizinho e a oportunidade de lidar com as próprias ervas daninhas"




"- A grama do vizinho é sempre mais verde". Todos nós já escutamos este ditado e, mesmo lutando contra isso, já nos pegamos pensando desta forma e sentindo o tão reprimido sentimento de inveja ou cobiça pelo que o outro possui e nós não.


Ok. Você pode tentar argumentar que não é invejoso. E, na realidade, acredito que "ser" é absolutamente diferente de sentir. Eu posso sentir inveja, mas ser invejoso é um passo adiante. No entanto, pessoas que não entram em contato com a própria sombra acabam ignorando que sentimentos não tão nobres são essenciais para que possamos nos aperfeiçoar, evoluir, amadurecer... Se eu nego, aumento minhas chances de introjetar um sentimento que fará parte de mim constantemente. Se eu aceito, permito que o sentimento passe por mim e vá embora depois. Se me proponho a conhecer meu lado não iluminado, consigo ser alguém melhor, simplesmente porque me conheco mais.


O ditado da grama nos traz uma metáfora linda: quando eu observo o verdinho por de trás da cerca que divide o meu território do território do outro tenho a chance - numa postura madura e de reversão de conflitos - de ver o quanto as ervas daninhas estão tomando conta do meu quintal. De posse desta constatação consigo cuidar melhor da beleza deste meu lugar: passo a adubar a terra, planto novas flores, converso com as plantinhas...


Quando cuido melhor do meu quintal, substituo o sentimento negativo original por um extremamente positivo: o da transformação. O olhar para o outro torna-se secundário. Eu não quero o que é dele e nem tão pouco quero que o quintal dele seja destruído. Ao contrário: eu entro em harmonia com o ambiente e passo a olhar para mim, para os meus desejos, para o que eu quero para mim naquele momento. Passo a ter um quintal único e especial que compõe a paisagem com o quintal do outro, deixando o bairro, a vila, a cidade, o país, o mundo mais bonitos.


Arrancar as próprias ervas daninhas é um processo intenso e às vezes doloroso. Algumas vezes nem havíamos percebido que elas estavam crescendo e quando olhamos, tínhamos quase um metro delas. Outras vezes, estávamos atentos ao crescimento de cada uma, no entanto, não nos sentíamos dispostos o suficiente para arrancá-las ou tínhamos medo de machucar nossas mãos. Não importa o motivo pelo qual a deixamos crescer. O que importa mesmo, de verdade, é que no aqui e agora tomamos consciência da necessidade de extirpá-las. E pode levar muito tempo ou ser simplesmente de uma vez só. Cada um saberá a maneira certa.


Ervas daninhas crescem sempre. É preciso estar atento periodicamente. E a manutenção deste jardim, neste quintal tão especial, é uma tarefa diária e prazerosa a partir do momento que percebemos que estamos cuidando de algo nosso e que ninguém pode fazer isso por nós.


Luz e Paz! E quintais cada vez mais verdes!




segunda-feira, 16 de agosto de 2010

"Momento de mudar ou momento de permanecer?"





Muito se fala sobre a necessidade de estarmos atentos e suficientemente flexíveis à mudança. A estagnação é uma patologia que se torna crônica mais rapidamente que qualquer outra.


Mudar é movimentar-se do conhecido para o desconhecido, da impossibilidade para a possibilidade. É a passagem do estado de paralisia para o de completa ação.


Os consultórios estão repletos, em grande maioria, de pessoas com medo de mudar, principalmente pelo apego que desenvolvem pelo cenário dramático que construíram em torno de si durante anos e anos. No entanto, assim como existem pessoas que são avessas à mudanças existem também aquelas que mudam o tempo todo. Vamos chamá-las de action addicts ou viciadas pela ação.


Os action addicts são indivíduos extremamente focados no "lado de fora". Observam com atenção os movimentos do ambiente e estão sempre preparados para a mudança. Normalmente buscam uma adrenalina necessária e motivadora, que desestrutura o que foi construído para começar algo "melhor".


Assim como na inflexibilidade à mudança, a mudança constante pode caracterizar-se como sendo uma síndrome patológica bastante preocupante que gera indivíduos constantemente insatisfeitos e com capacidade de vinculação bastate prejudicada.


Muitas vezes, os viciados pela ação na realidade agem compulsivamente de modo a evitar o confronto de sentimentos internos profundos, mágoas, medos, limites... São mestres na alteração de rota dos percursos que provocam instrospecção e auto-conscientização. Embora apresentem uma imagem de dinamismo e flexibilidade ímpares, carregam consigo uma inabilidade de auto-aceitação e enfrentamento.


Os action addicts normalmente são inconstantes: trocam de emprego ou de profissão de forma anormal, não conseguem estabelecer relações amorosas não-conflituosas, mantém vínculos superficiais para evitar a criação de raízes profundas. Todos estes comportamentos são, na maioria das vezes, respostas inconscientes e não arquitetadas que representam uma defesa do psiquismo, que por algum motivo - exclusivo a cada indivíduo - procura segurança na mudança.

Compreender e utilizar a mudança como transformação é submeter-se ao maravilhoso poder da sincronicidade. Compreender e utilizar a mudança como fuga é querer inutilmente adotar a postura de controle soberano.


Cada um de nós pode tender mais para um lado que o outro: inflexíveis à mudança ou viciados nela. Mas é importante lembrar que todos nós transitamos entre uma polaridade e outra, de acordo com nossa conveniência. Assim, quando nos deparamos com uma possibilidade de mudança, temos antes que avaliar de fato o que ela representa: fuga ou transformação? É através desta auto-análise que conseguiremos saber se o momento é de mudar ou de permanecer.


Luz e Paz!

E até breve!



quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

"Promessas de Ano Novo"


Todo ano é igual. Sem exceção. Listamos práticas a serem cumpridas nos 364 dias seguintes, mesmo que não literalmente, ali, com lápis e papel na mão. Muitas vezes fazemos as listas mentalmente, quase obsessivamente. São nossas promessas de Ano Novo, listadas como quem traça um plano de guerra.

Eu não sou contra listas. Aliás, tenho até trabalhado bastante com elas no consultório. Acho que nos ajudam a organizar as idéias, a clarear pontos obscuros, a dar norte à nossa parcela dispersiva e preguiçosa. Entretanto, se ela atua como algo que oprime e que nos deixa deprimidos a cada desvio ou feito não realizado, aí, ela passa a ser um elemento limitador.

Promessas de Ano Novo tem muito a ver com nosso ideal de nós mesmos. Já pensaram nisso? Temos a tendência de idealizar quase tudo: o amor perfeito, a casa perfeita, o trabalho perfeito, os pais perfeitos, a vida perfeita... Enquanto isso, a realidade vai acontecendo sem que tomemos consciência de sua beleza e riqueza. Quando prometemos coisas para nós mesmos todo início de ano, estamos mandando um recado: "Eu sou tão imperfeito! Mas vou consertar isso!".

Sim, somos todos imperfeitos. Sim, temos que almejar nossa melhoria constante. Sim, temos que trabalhar com isso. Mas, com amor, com calma, com consciência e acima de tudo, com a certeza de que somos bacanas, mesmo com tantos defeitos!

Ao invés de prometermos tantas mudanças a nós mesmos, poderíamos prometer uma única e eficaz coisa: "Eu prometo me amar, incondicionalmente". Não aquele amor egóico, narcisista, infeliz. Mas aquele amor profundo, que supera qualquer dificuldade, que aprende com os próprios erros, que ri de seus defeitos, que acarinha porque sabe o quanto seu objeto é importante.

Se esta promessa fosse levada a sério, ela não traria opressão. Não traria peso na consciência, nem tão pouco estratégias mirabolantes. Ela poderia ser simples, natural, prazerosa...

Aprendemos desde crianças que o amor, em primeiro lugar, deve ser voltado para fora. Infelizmente, isso faz parte de uma cultura baseada numa equivocada noção de caridade. Aprendemos que se não doarmos primeiro pro outro, estaremos sendo levianos, não caridosos, egoístas. Mas, para doarmos, temos que ter também. O que acontece normalmente é que nos esvaziamos para encher o outro. E o que peço é para que nos enchamos para depois, então, suprirmos o outro com este amor. Só é possível doar o que se tem. E se você doa tudo o que você tem e não deixa nem um pouquinho pra você, então, infelizmente, você passa a exigir que outros te preencham. Isso sim é leviano, egoísta e limitador. Se cada um cuidar de sua casa interior, então, todos terão muito mais a doar. Isso sim é caridade. Isso é amor.

Neste novo ano que se inicia, tente exigir menos de você. Flua com tudo aquilo que o seu amor interior tem para oferecer. Perceba que só é possível trocar coisas boas se você souber exatamente o que carrega dentro de si.


Luz e Paz!