segunda-feira, 12 de outubro de 2009

"O tempo pessoal e o tempo do outro"


Tempo é uma medida tão íntima, tão relativa! Às vezes, uma hora para mim é uma eternidade e para o outro, 5 minutos. Nossa percepção temporal tem muito a ver com nossa história de vida, a maneira como administramos nossa rotina, a forma como nossos pais nos ensinaram a organizar nossas atividades naqueles minutos por vir que o relógio mostrava. Tem a ver também com nossa constituição neurológica e com a forma como nosso Sistema Nervoso Central recebe as informações através de nossos sentidos.

O mundo contemporâneo lida com o tempo de uma forma muito mais obsessiva e controladora do que o mundo de nossos avós. Aprendemos no mundo de hoje a acreditar nas máximas: "tempo é dinheiro", "meu tempo vale ouro", "não tenho tempo para isso". E, dessa forma, iniciamos um processo de priorizar o "nosso" tempo em detrimento do tempo alheio. Passamos a nos relacionar com os outros com a idéia de que eles roubam nossos minutos, levianamente. Iniciamos um processo egóico de controlar e administrar nosso tempo de modo que ele nos sirva na maior parte das vezes e que seja dedicado ao outro o menos possível. Nesta ação, a interpretação de "cuidar de si" ganhou uma roupagem equivocada.

Quando paramos para refletir sobre a questão do tempo, fica evidente que quase nunca exercitamos o olhar o outro com os olhos do outro. Nossa auto-referência, extremamente exacerbada, faz com que este exercício seja penoso e quase impossível. Como prova, temos a era em que os relacionamentos são os menos duradouros e os mais voláteis de todos os séculos! As pessoas preferem sempre trocar de parceiro ou desfazer uma relação de amizade quando alguma coisa não dá certo ao invés de tentar entender o outro lado ou o tempo do outro. Descarta-se relacionamentos como quem descarta um copo plástico.

A primeira lição que podemos tentar aprender é a de que, de fato, cada um tem seu tempo pessoal. E isso, diferentemente do que se pensa, não é ruim. A singularidade do ser humano é algo a ser celebrado, pois ela permite a troca. Mas, somente uma personalidade livre de vaidades pode aproveitar ao máximo a troca com o outro.

Em segundo lugar, ao aceitarmos que o tempo do outro é diverso do nosso, é preciso aprender a respeitar tal diversidade. Compreendê-la, mesmo que superficialmente, para estabelecer, desta forma, um contato fidedigno com a outra pessoa.

Assimilado esses dois pontos, partimos para a compreensão de que é preciso trocar de lugar, muitas vezes. Trocar de lugar no sentido de perceber que o outro também pode ter razão e que por isso mesmo é preciso respeitá-lo. É neste momento que afrouxamos nosso ego e passamos a entender que é possível trocar. E para trocar, temos que nos sincronizar com o tempo do outro.

Um exemplo prático: quando estamos caminhando com uma pessoa mais velha que nós, temos a tendência de acompanhá-la vagarosamente. Ninguém sai para passear com o avô, correndo à sua frente. Mesmo sabendo que naquele momento, você poderia caminhar mais rapidamente, por respeito ao outro, por querer estar na companhia do outro, você desacelera. Anda devagar. Ali, você mudou a frequência de seu tempo. Você permitiu que o tempo do outro fosse mais importante.

Na vida, em nossas atitudes, muitas vezes precisamos desacelerar da mesma forma. Ou até mesmo, apertar o passo para acompanhar o outro. Seja como for, é importante entender que, para sincronizar os tempos, precisamos mudar a frequência. Ou, mesmo que não queiramos sincronizar, precisamos entender que talvez a atitude do outro demore ou vá mais rápido do que a nossa. O pedido de desculpas numa discussão, por exemplo, pode demorar a chegar. A reação do outro quando sente-se agredido, talvez venha rápido demais. Enfim, como numa dança, as relações se permeiam pelo ajuste temporal.

Conseguindo compreender as variações do tempo, conseguimos da mesma forma compreender que a harmonia em nossas vidas pode ser conseguida e mantida mais facilmente através da percepção de nós mesmos, mas também da percepção dos outros.

O tempo é de todos. A partir desta visão, passamos a equilibrar melhor a administração de nosso próprio tempo.


Luz e Paz!

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