Todos nós, de alguma forma, aprendemos a nos editar. Com as redes virtuais, isso fica cada vez mais evidente: a foto que colocamos em nosso perfil, a descrição de nossos gostos, o tipo de atividade que divulgamos praticar, etc. são todas escolhidas com cuidado e zelo, numa tentativa de representação máxima pessoal.
Quando editamos a nós mesmos estamos atuando ao máximo com nossa Persona. Este é um termo trazido à psicologia moderna pelo admirável Dr. Carl Gustav Jung, que o designou àquela nossa parcela pessoal que fazemos questão de salientar aos outros. Como o próprio nome sugere, a Persona nada mais é que um personagem criado e vivido por nós de forma a resumir nossa personalidade.
No entanto, como todo resumo, a persona agrega somente algumas características daquilo que somos ou acreditamos ser. Normalmente, ficam de fora nossas características mais profundas, nossos defeitos menos identificados e mais escondidos, nossos medos e principalmente nossa essência-primeira.
A Persona é como um escudo. Uma defesa de nosso ego contra toda e qualquer ameaça. Ela não é somente exibição daquilo que eu acredito ter de melhor, mas é também a evidenciação de como eu gostaria de ser. Por tal caráter revelador, para olhos atentos, é possível conhecer muito sobre uma pessoa observando primeiro como ela se apresenta a nós. Paradoxalmente, olhar a Persona de alguém é ao mesmo tempo olhar sua casca e sua verniz, mas também seu íntimo. O não-revelado nos permite mergulhar no psiquismo daqueles que se apresentam superficialmente.
Todos nós atuamos quase que unicamente pela Persona em algum momento de nossas vidas, principalmente se nosso trabalho em auto-conhecimento é limitado. Quanto mais nos conhecemos, menos temos a necessidade desta defesa do ego e mais próximos de nossa essência chegamos.
Mas, pode surgir a pergunta: "-Devemos então buscar a nossa revelação total aos outros, abrindo mão de algumas características pessoais construídas, nos tornando seres absolutamente transparentes?". Creio que a resposta seja negativa e explicarei o motivo a seguir.
Construções fazem parte de nosso desenvolvimento humano e assim sendo, fazem parte de nosso aprendizado sobre nós mesmos e sobre os outros. Muitas vezes construímos uma carreira, uma imagem pessoal e um tipo de relação ao longo de nossas vidas e nos sentimos orgulhosos disso. Em cada um desses setores estamos desempenhando papéis diferenciados: quando sou mãe, por exemplo, assumo o papel materno, papel este que não é aconselhável ser assumido numa relação amorosa ou num cargo de chefia em meu emprego. Assim, a forma construída de maneira pessoal para que eu possa desempenhar cada um desses papéis me traz, muitas vezes, segurança e me capacita para que eu tenha sucesso nessas atuações. Desta forma, abandonar as personas criadas me acarretaria uma confusão profunda e uma anulação de um repertório que até hoje me serviu muito bem, por me manter numa zona de conforto. Eliminar isso radicalmente poderia resultar em sérios conflitos psíquicos. No entanto, se num trabalho de auto-conhecimento eu ao menos conseguir identificar que tais atuações diversificadas são fragmentos de algo integral que sou eu mesma, já estarei compreendendo o meu funcionamento e eliminando, aos poucos, a necessidade de criar, cada vez mais, novos personagens que me "defendam" do mundo. Quando integramos nossa personalidade nos aproximando de nossa essência, conseguimos permitir que nos apresentemos naturalmente aos outros. A isso chamamos autenticidade.
Ser autêntico é garantir, para toda a vida, uma sensação de bem estar inabalável e uma força de enfrentamento de crises inesgotável! Experimente!
Luz e Paz!
Pedrita Evangelista.