
Compartilhar é dividir. É repartir com o outro alguma coisa. É conseguir subtrair a quantidade própria em prol da multiplicação ao universo alheio.
Desde crianças, aprendemos que repartir é perder. Quando a criança divide algo com seus irmãos ou primos, sente o mal estar egóico corroer por dentro. Isso acontece porque a forma como nos é colocada a idéia de divisão faz com que acreditemos que necessariamente existirá perda. Mas, não é necessariamente assim. Compartilhar é aprender que - sempre ou quase sempre - ganha-se mais do que se dá.
Temos muito a compartilhar nesta vida: coisas boas, coisas ruins, objetos, palavras ouvidas, receitas, histórias, alimentos. Entretanto, só podemos compartilhar verdadeiramente o que nos pertence. Não saímos por aí dividindo o que não é nosso. E se o fazemos, agimos com leviandade.
O que é nosso pode ser partilhado a qualquer momento. Mas não sempre. Pelo menos deveria ser assim. Há quem compartilhe tanto que se esvazia: transforma sua autonomia sobre determinada coisa em domínio público e acaba por não perceber mais o que é de quem ou quem é quem. Indivíduos assim tendem a querer encontrar respostas na boca de outras pessoas, sem perceber que o que precisam é escutar a voz interior.
Há também aqueles que não compartilham nada. São fechados, ávaros, acumuladores de tudo. E quando se dão conta, transbordam de tanto excesso. Excesso por não conseguirem dividir sentimentos, coisas, conquistas e idéias com o vizinho do lado.
Como tudo na vida, o compartilhar tem que ter medida: nem tão ao céu, nem tão à terra. Mas o mais importante é que na medida certa, este pode ser um exercício libertador. Ao dividir com o outro, conseguimos colocar em palavras ou gestos tudo aquilo que permeava simplesmente nosso universo interno. É como se conseguíssemos enxergar de fato o objeto compartilhado e ele ganhasse cor, forma e até mesmo novos significados.
Assim como compartilhamos exercendo o papel de quem dá, também comparilhamos exercendo o papel de quem recebe. Receber é tão delicado neste contexto quanto dar. É preciso que também saibamos a medida do receber, pois não queremos roubar o que um dia foi só do outro nem tão pouco ganhar bagagens extras desnecessárias nesta nossa caminhada. Receber é conseguir abarcar o que o outro nos oferece e devolver- de forma assertiva e terna, numa nova roupagem - o resultado da nossa impressão pessoal.
Todos aqueles que praticam o ato de compartilhar certamente posicionam-se diante da vida de forma mais autoral, com menos receios, com mais vitalidade e com a segurança tranquilizadora de que movimento é transformação!
Luz e Paz!